quinta-feira, 10 de junho de 2010

Crescimento do comércio em Teixeira de Freitas

Teixeira de Freitas é considerado o maior pólo comercial do Extremo Sul. Mesmo quando era um simples povoado no início dos anos 60 já fazia diferença; nos anos 70 o povoado já registrava um movimento comercial respeitável e servia como alternativa para aqueles que não podiam ir à Nanuque-MG ou outras cidades da região.
Neste período foram chegando ao povoado vários cidadãos com forte espírito empreendedor. A partir de 1970, já estava no contexto local o Supermercado Brasil, a Casa Morbeck, o Armarinho Caçula, Casa Leuza, a Casa e Oficina Monark, Farmácia Alcobaça, Supermercado Figueiredo, Salão Castro Alves, dentre outros.

Em 1962, no mês de junho, a Casa Leuza foi inaugurada em Teixeira de Freitas. E, neste mês está comemorando 48 anos de portas abertas. O fundador foi seu Egberto Rabelo Pina que acreditou na cidade e foi um dos primeiros a chegar aqui em 1957. Seu Beto da Casa Leuza faleceu em 2007, e o seu filho Egberto Rabelo Pina Filho e sua mãe Inah Gonçalves Pina, deram continuidade ao negócio da família.
Segundo Egberto Filho, “o comércio mudou completamente, as necessidades também mudaram e hoje Teixeira é um pólo. Tivemos que nos adaptar. Lembro que na minha infância vendíamos de tudo, onde chamávamos de secos e molhados, porém hoje tivemos que escolher um segmento. Mas, foi mesmo nos últimos 10 anos que a cidade cresceu demais, superando todas as expectativas. Hoje a loja para mim e minha família é tudo, supre nossas necessidades. Sou feliz aqui, e não pretendo sair”.

Um dos primeiros barbeiros de Teixeira Freitas foi o senhor Otacílio Barbosa dos Santos, que veio de Minas Gerais em 1968, e há 42 anos tem seu comércio, o salão Castro Alves, onde trabalha até hoje. Ele afirma que a diferença do povoado daquela época para a cidade de hoje é de água para vinho. Hoje a cidade tem tudo. Quando ele chegou por aqui, nem energia tinha, ele usava apenas navalha, e agora usa máquina elétrica e a navalha é só para acabamento. O senhor Otacílio está com 90 anos, trabalha ativamente no salão, tem orgulho em contar sua historia. Diz ser uma pessoa muito feliz, cheio de vida, pai de 14 filhos do primeiro casamento. Criou seus filhos com o seu suor, e ainda mantém sua segunda esposa com o salão. “Graças a Deus criei meus filhos aqui. Minha primeira esposa faleceu nessa casa, e me casei novamente e sou muito feliz nesse mesmo local”, acrescentou com orgulho o barbeiro Otacílio.
Em 1969, chega à cidade seu Oto Morbeck da casa Morbeck Secos e Molhados. E, é justamente assim que o comércio é chamado até hoje, do jeito que construiu continua, nunca mudou nada de lugar. E assim tem 41 anos de comércio. “Quando cheguei aqui tudo era melhor, no comércio vendíamos bem, só que foi chegando mais empresas e aumentou a concorrência, mesmo assim consegui constituir alguns bens, e sustendo minha família. Dentro do meu estabelecimento nunca mudei nada, do jeito que construí continuou e será assim até eu morrer. Gosto demais dessa cidade, sou grato por tudo. Acompanhei o crescimento como se fosse de um filho”. Disse Oto Morbeck, 77 anos.

Muitas mulheres empreendedoras também fizeram história, participaram ativamente do desenvolvimento comercial da região. Uma dessas guerreiras é Maria das Dores Medeiros de Almeida, de família tradicional na região. A sua loja, Dandi Modas, foi inaugurada há 25 anos em frente à casa Leuza. O seu objetivo era atender uma clientela mais exigente, com roupas e marcas reconhecidas e de excelente qualidade. Dandi Modas comemora 25 anos, sendo 14 no endereço atual, na Avenida Marechal Castelo Branco. Carinhosamente chamada de Dandi, Maria das Dores em entrevista nos disse: “De quando inaugurei a loja para cá o comércio cresceu muito e a concorrência também. Automaticamente a clientela aumentou, e com tudo isso, ganhei novos clientes, mais tenho ainda aqueles que me acompanham desde quando inaugurei. Acredito em Teixeira de Freitas, por isso busco deixar a Dandi Modas sempre bonita, bem iluminada, com novidades e exclusividade em mercadorias, assim satisfazemos Teixeira e região”. Dandi prioriza muito a excelência em seu atendimento.

Outra mulher que fez e ainda faz história em Teixeira e região é a Irá Lemos, da Preferida Modas, situada na Marechal Castelo Branco, que inaugurou a loja de moda masculina e feminina em 1976, quando chegou à cidade, há 34 anos.
“Sei que a concorrência aumentou, no entanto também chegou a oferta e a procura. Atualmente se fala muito em moda nos meios de comunicação e isso tudo ajuda nas vendas. O crescimento de Teixeira de Freitas é assustador, pena que falta a estrutura para receber tanta gente, principalmente a classe mais humilde, porque acaba chegando e não conseguindo um espaço e se envolvem nas coisas ruins, como droga, prostituição, roubo. Tudo isso nos deixa triste. Sei que falta mesmo é planejamento. Outro exemplo disso é nosso trânsito que é caótico. Apesar de tudo isso o amor por Teixeira, por ser tão acolhedora é imenso. Sou muito feliz aqui e já consegui expandir minha loja. além da Preferida, temos agora também a HOMMEM.COM. Por essas e outras coisas boas é que nunca passou pela minha cabeça sair dessa minha cidade”, afirmou Irá Lemos.

Conversamos também com Vânia Aparecida Panhassi Simão e sua filha Paula Viviane, elas que são proprietárias da Padaria Pão Gostoso na Avenida Presidente Getúlio Vargas, há 27 anos vieram do interior de São Paulo.
“Eu já tinha parentes aqui. Quando meu marido José Paulo foi transferido para cá pela empresa que ele trabalhava, acabamos gostando muito do comércio da cidade. Aqui tivemos a oportunidade de comprar a padaria, e graças a Deus deu certo. Estamos aqui até hoje, ampliamos e reformamos o nosso estabelecimento e a cada dia buscamos melhorar. Teixeira merece o melhor. A única coisa que nos preocupa é apenas a segurança no comércio. Não temos nenhuma pretensão de mudar de ramo e tão pouco sair de Teixeira. Aqui nasceram meus filhos, meu neto, somos felizes aqui”, contou-nos orgulhosa Vânia Panhassi.

Não podemos esquecer que vários profissionais liberais em áreas diversificadas também contribuíram para o progresso em Teixeira de Freitas, abrindo lojas e aqui permanecendo, como: José Caliman, Alair Camilo, Luiz Carlos Tavares dentre outros. Todos eles são fortes comerciantes nas áreas de eletrônicos, material fotográfico e de derivados de madeira, além de serem fazendeiros e proprietários de imóveis.

Entrevistamos o senhor Luiz Carlos Tavares, morador de Teixeira de Freitas há 38 anos. Ele veio do Espírito Santo onde era empregado de balcão. Resolveu fazer um passeio na cidade de Teixeira e gostou. Acabou montando um estabelecimento tipo uma mercearia, e em pouco tempo transformou em um armazém, que ficava localizado onde atualmente é a loja Nova Brasília. Foi crescendo, começou a comprar gado e os colocava na terra de amigos. Sentiu então a necessidade de comprar um pedaço de terra, e acabou alugando seu ponto e passou a trabalhar só com fazenda. Luiz fez história como comerciante, fazendeiro e hoje é um grande empreendedor. “Teixeira era um lugar tranquilo. Naquela época circulava dinheiro e não tinha concorrência e hoje todos chegam, abrem comércio e a concorrência é muito grande. Com isso veio a violência, porém, mesmo com tudo isso, não tenho pretensões de sair daqui. O que tenho, constituí nessa cidade e vou morrer aqui”, declarou Luiz, 62 anos.
Teixeira de Freitas, atualmente, tem mais de mil pontos comerciais, além de mais de quatro mil empregos diretos, sem contar com os informais que acabam escapando das estatísticas.
A cada dia chegam novos empreendedores que estão contribuindo para Teixeira de Freitas ser referencial em todo o país. Sabemos que não é por acaso que grandes empresas nacionalmente conhecidas já estão se instalando na cidade e outras já ensaiam a sua chegada. E é por isso que esta cidade tem sido importante para realização e consolidação de muitos sonhos.

Texto e fotos de Mirian Ferreira

terça-feira, 1 de junho de 2010

Fazenda Cascata - Patrimônio histórico, cultural e ambiental da região

A Fazenda Cascata fica a seis quilômetros de Teixeira de Freitas, às margens da BA-290, a caminho de Alcobaça e Caravelas. Há mais de dez anos existe uma proposta da “Fundação Quincas Neto”, de revitalização e socialização do patrimônio histórico, cultural e ambiental existente na área da fazenda.
Um dos argumentos do Projeto que é de 1996, é de que “a Fazenda Cascata “guarda” num único ambiente, a mostra de vários ciclos econômicos – cultura do café, cultura do cacau, cultura da mandioca, desmatamento para implantação de pastagens para a pecuária, o início da atividade comercial e os primitivos meios de transporte – desde a segunda metade do século XX”. Mais de dez anos se passaram e o projeto ainda não obteve aprovação. Isso trouxe graves prejuízos para o sítio histórico que a cada ano se deteriora, ficando cada vez mais difícil sua revitalização.
Sem dúvida alguma, a Fazenda Cascata é muito importante para a memória histórica e sócio-cultural da região, visto que, segundo parecer técnico da vistoria feita no local pelo Departamento de Ciências Biológicas Francisco de Castro Bonfim Jr. e pelo Departamento da Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, trata-se de “importante sítio arqueológico de grupos pré-históricos que habitaram a região em épocas remotas”.
A Fazenda Cascata apresenta edificações já bem castigadas pelo tempo e que precisam urgentemente de uma intervenção e posterior restauração. São edificações tais como:
• Um sobrado que é um raro exemplar das casas sede das fazendas do século XIX;
• Uma casa de farinha, com o maquinário utilizado para o beneficiamento da mandioca;
• Estufa e barcaças da época em que a vocação comercial da região se diversificou por causa da decadência cafeeira;
• Uma venda, toda em madeira de lei, representando o marco comercial da região;
• Capela, onde se realizava manifestações religiosas;
• Tulha, espécie de depósito para armazenar grãos;
• Duas escolas, sendo que uma implantada e estadualizada na década de 30;
• Carcaça de uma embarcação que servia de transporte da produção agrícola da fazenda até Alcobaça, via Rio Itanhém;
• Casa de arreios, que era utilizada para guardar cangalhas, balaios, cangas e carros de bois;
• Casinhas de madeira que funcionavam como local de pouso dos tropeiros.
Todas as informações aqui citadas foram obtidas em conversas com o proprietário da fazenda, Sr. José Sérgio e através da cópia da proposta de revitalização do patrimônio histórico ali existente.
Numa pesquisa de campo verificamos que houve uma quebra do caráter histórico ao construírem ali uma piscina, descaracterizando o sítio histórico colonial da fazenda. Verificamos também que todo o patrimônio encontra-se interditado por risco de desmoronamento.
É visível o descaso com a preservação de área tão importante que, se resgatada e restaurada, servirá de marco histórico com grande acervo arquitetônico, podendo ser usado tanto como ponto turístico quanto como aula viva para estudantes de toda a região, tornando-se um laboratório de pesquisas e estudos. Clamamos aqui ao Poder Público e à população que se mobilizem e salvem a Fazenda Cascata em nome da preservação da história do nosso município.

Pesquisa de campo: João Pereira, Marlene Rocha e Mírian Ferreira
Texto: Marlene Rocha

Fotos: João Pereira e Marlene Rocha